Eu sei o blog tá totalmente desatualizado! Desculpem-me, vou voltar a postar... É aquela falta de tempo as vezes que atrapalha um pouco.
Mas enfim, as coisas aqui na escola estão tomando uma direção totalmente diferente agora. Meus primeiros dias aqui na escola estavam muito parados, saia apenas do escritório pro meu dormitório, como vocês sabem, é na mesma escola. Mas chegou o final de semana pra coisas começarem a mudar, porque eu decidi mudar!
Na sexta-feira resolvi ir pra Pequim e convidei Julia, é uma alemã e a única intercambista aqui comigo, ela ainda estava na dúvida porque tinha algumas coisas pra resolver sobre a universidade dela, porque no próximo semestre ela está indo cursar o período na Suécia. Julia adora viajar, já conhece todos os continentes! Fui falar que conheci uma menina na Índia que já viajou 45 países e então Julia olha pra mim e fala: “Só 45?!” Hahaha, então vocês imaginam por ai quantos países ela já conheceu... Mais de 50! Esses fatos me motivam a viajar mais e mais... Só comecei agora :P Se Deus quiser ainda vou pegar alguns voos pelo mundo afora...
Foram apenas “pequenas aspas” sobre Julia... Voltando ao final de semana em Pequim. Pequim é muito, muito, muito massa! Moderno nem se fala! O sistema de transporte público aqui na China é algo fora do comum de organizado e moderno. Em Pequim moram muitos estrangeiros, eu acho que vi mais estrangeiros andando na rua do que chineses, eles são muito mesmo. Então me senti bem mais a vontade e também conheci brasileiros, depois de 15 dias sem português, sem contato com nenhum brasileiro, encontro com uma brasileira de São Paulo que mora a 5 anos na China; e depois mais conheci mais dois brasileiros, engenheiros, que trabalham em um projeto da Chemtech aqui na China desde outubro do ano passado.
Mudando de assunto, preciso falar a vocês sobre o choque cultural. Aqui na China o choque cultural é grande! Primeiro em relação à educação, os alunos aqui não tem vida social, isso é fato ;x
Ontem, fomos jantar em um restaurante chinês, foi meio que uma despedida pra Julia, só foi eu, Julia, Sophia (chinesa – professora de inglês) e Yoo Yong (coreana – professora de gramática coreana). Quando voltei pra escola, que estava chegando ao meu dormitório um aluno estava chorando no telefone, não entendi bem o que estava acontecendo, então perguntei ao colega dele qual era o motivo por ele estar chorando, o garoto me disse que ele chorava porque estava no telefone conversando com os pais e ele sente muita saudade deles. Quando o aluno desligou o telefone comecei a conversar com ele, tentando fazer com que ele não ficasse tão triste, perguntei quanto tempo fazia que ele não via os pais, ele me disse que dois meses. Comecei a contar que desde janeiro não vejo minha família e que a Coreia é aqui muito perto da China. Então pedi pra ele imaginar o Brasil, dizendo que o Brasil fica do outro lado do mundo, a mais de 35 horas de avião da China. Disse também que ele tem que ser forte, em seguida, o amigo dele me disse: “É porque hoje é o aniversário dele.” Putz, isso me deu um aperto no coração! Eu já acho muito pesado porque eles são crianças e adolescentes, tem alunos aqui de 14 anos que vem da Coreia e moram sozinhos na escola, já acho pesado essa distancia entre a família; e eles estudam muito! Pra vocês terem noção da carga horária, eles tem aula das 8:00 às 12:00, das 14:00 às 17:30 e das 18:30 às 21:00! E vocês acham que para por ai?! Eles ainda estudam no sábado e no domingo! Inclusive domingo à noite!!!
Sou totalmente a favor da educação. Acredito que é através da educação que conseguimos desenvolver e fazer crescer um país, mas ao mesmo tempo fico pensando até que ponto essa educação influencia na vida desses alunos. Será que abrir mão de ver seu filho crescer e amadurecer durante a adolescência vale tão a pena? Será que “isolar” seu filho vale a pena? Será que fazer seu filho viver em uma escola com praticamente um regime militar vale a pena?
Aqui na escola, vejo os alunos chineses nos portões no final da tarde, muitos alunos, porque é essa hora que a família vem trazer alguma comida, alguma coisa que eles estão precisando ou simplesmente pra ver seus filhos. E não estou exagerando, os alunos ficam do lado de dentro dos portões e os pais do lado de fora. É isso que me pergunto até que ponto a educação pode influenciar na vida desses alunos e dessas famílias. E reforço, sou muito a favor da educação, mas não dessa forma. Enfim, um grande choque cultural pra mim.
Voltando ao aluno que estava chorando, não me contentei em ver aquele aluno triste daquele jeito. Fui ao meu quarto peguei um pão, que é praticamente um bolo (aqui na China é bem famoso), coloquei uma pelota em cima desse “pão-bolo” pra fingir ser uma vela e fui entregar a ele cantando parabéns. Ele agradeceu, mas ainda triste... Achei até que ele não tivesse gostado muito, mas no outro dia, ele veio me agradecer, agradecendo por tudo que eu tinha feito na noite anterior por ele. E agora sempre que ele me ver, começa puxar assunto. E vocês não tem noção de como é poder ajudar alguém nessas condições. Pra mim também não foi fácil e não é fácil, me sinto realmente na pele dos alunos coreanos, porque minha família também está muito longe. Alguns alunos me perguntam inclusive esse aluno que estava chorando: “Você está com saudade da sua família?” E você tem que ser forte e firme na resposta, tem que passar segurança pra os alunos. Acredito que o papel de professor não é apenas passar conhecimento, educação e experiência, mas é também passar segurança, o aluno deve sentir que pode confiar em você, mas o que vejo muitas vezes é um tratamento “frio”. E não só aqui na China, mas também vi isso na Índia e no Brasil! E deve ser por isso também que quando chego na sala de aula meus alunos vibram porque é minha aula e sempre dizem: “Teacher, I like you!” Engraçado é um aluno, desses alunos bem “tirador de onda”, ele sempre diz: “Hey Brazilian, you’re my friend!”
São sentimentos como esse que vou evoluindo sempre e é o que eu sempre digo: Não tem dinheiro no mundo que pague essas minhas experiências de intercambio. E agradeço a Deus sempre por ter colocado esses dois países, Índia e China, e que todo mundo fez “cara feia” quando eu fiz essas escolhas, mas não me arrependo um segundo se quer de estar vivendo isso tudo. São experiências e aprendizados que vou levar comigo pra sempre.
É isso, fiquem com Deus, até o próximo post... E nem preciso dizer que a saudade tá grande! :P